Cérberus
O cão de Hades foi expulso dos seus portões.
Se encontra agora na sarjeta, à procura de restos de alimento dos quais possa acalmar seu apetite. Conhece agora a chuva que irrita os pedestres.
O cão de Hades está a ladrar.
Qualquer um que passa por ele reconhece apenas um vira-lata.
Sua antiga nobreza perdeu-se.
O cão de Hades está repleto de pulgas.
Antes um guardião dos mortos, agora um palco para que seres menores encenem suas fantasias.
O cão de Hades é o palco do teatro das pulgas.
Elas caçoam dele por não ser mais um guardião.
Elas encenam a tragédia do cão tricéfalo e gargalham da mesma.
O cão de Hades está em frenesi.
Essa cidade é cruel demais para com os cães.
E ver um cão se contorcendo no chão é a evidência de que ele tem raiva.
O cão de Hades é a própria raiva.
A saliva espumante escorrendo de sua boca.
O cão de Hades é a angústia.
O retorcer no chão agonizante.
O cão de Hades não é mais o guardião dos mortos.
É a própria morte.
Luiz Alberto Vieira
Luiz Alberto Vieira
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